A abertura de oportunidades de cooperação científica com a Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica) e o reconhecimento da trajetória de parceria com a Embrapa, em 50 anos de história do desenvolvimento agropecuário brasileiro, foram os principais pontos do encontro nesta quarta-feira (14), que reuniu, na sede da Empresa, em Brasília, o ministro Carlos Fávaro, da Agricultura e Pecuária (Mapa), Akihiko Tanaka, presidente da Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica), e a presidente Silvia Massruhá.
A reunião foi uma oportunidade de homenagear as duas instituições, que contribuíram para a transformação agrícola nacional, elevando o País à categoria de um dos principais produtores de alimentos do mundo. Atualmente, Embrapa e Jica são parceiras no Projeto de Desenvolvimento Colaborativo da Agricultura de Precisão e Digital para o Fortalecimento do Ecossistema de Inovação e a Sustentabilidade do Agro Brasileiro.
No início do evento, a presidente da Embrapa destacou a importância da Jica, como parte da história da Empresa, referindo-se à parceria desde o Programa de Cooperação Nipo-Brasileiro para o Desenvolvimento Agrícola dos Cerrados (Prodecer), instituído em 1979, destinado à cooperação financeira e técnica, para o crescimento e incentivo à produtividade de soja e milho na região. “Foi sem dúvida um marco para o agro brasileiro. O encontro de hoje é significativo porque relembra a consolidação do intercâmbio científico entre Brasil e Japão” disse.
Para Sílvia, o impacto da parceria transcendeu a estratégia inicial que resultou na transformação das áreas improdutivas de Cerrado e citou o exemplo dos sistemas agroflorestais e a experiência dos agricultores nipo-brasileiros do município paraense de Tomé-Açu, compartilhada pela Embrapa Amazônia Oriental. “Por isso, não é uma coincidência hoje estarmos aqui para plantar uma semente da cultivar de pequi sem espinho, resultado do trabalho da Embrapa Cerrados, em parceria com a Emater-GO”, destacou, ressaltando o simbolismo da cooperação consolidada em cinco décadas de história da pesquisa agropecuária da Embrapa.
“Como pesquisadora, ao lado dos colegas da Embrapa Instrumentação, participamos da implementação de mais uma cooperação técnica, atualmente em andamento”, comentou. O projeto, assinado entre a Jica, o Mapa, a Embrapa e a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), em abril de 2021, destina-se ao desenvolvimento agricultura de precisão e digital, a partir da promoção de tecnologias agroindustriais sustentáveis, com melhoraria da produtividade e da sustentabilidade ambiental, com rentabilidade do setor agrícola, por meio da colaboração indústria-governo-academia entre o Japão e o Brasil.
Segundo ela, existem várias oportunidades para que as duas instituições continuem trabalhando juntas, com foco na produção de alimentos, com qualidade, competitividade e de forma sustentável. “A Jica aparece no passado, no presente e no futuro da Embrapa”, concluiu.
Fortalecimento de relações internacionais
Durante o encontro com a delegação japonesa, o ministro Carlos Fávaro destacou o início da nova fase das relações internacionais, a partir da posse do presidente Luis Inácio Lula da Silva. “Não apenas o presidente, como todos os ministros e equipes técnicas estão empenhados em trabalhar para fortalecer o relacionamento com os países amigos”, garantiu.
Lembrando as dificuldades enfrentadas durante o período da pandemia de Covid-19 e do conflito entre Rússia e Ucrânia, Fávaro disse que a experiência serviu para revelar ao mundo a fragilidade da globalização. “A tendência natural, a partir de agora, é a consolidação das relações bilaterais e o Japão é um grande país amigo, com o qual temos relações comerciais fortes e oportunidades para serem ampliadas e fortalecidas”, comentou.
Segundo ele, a importância da Embrapa e da Jica, trabalhando juntas para que o Cerrado se tornasse produtivo para a agropecuária, revela o potencial dos próximos passos. “Há 40 anos, o cenário era de ocupação do bioma, mas hoje podemos formatar um novo projeto de ampliação da oferta de alimentos para enfrentar a inflação dos alimentos gerados pela pandemia e pela guerra”, afirma. “Isso tudo pode ser ampliado de uma outra forma, que não seja pela ocupação e pelo desmatamento”.
Fávaro destacou o mapeamento do solo brasileiro realizado pela Embrapa, que demonstra a existência de 160 milhões de hectares de pastagens ainda com baixa produtividade. “Deste total, entre 35 e 40 milhões de hectares têm aptidão para conversão em áreas agricultáveis”, disse, ressaltando as condições favoráveis, entre elas índíces pluviométricos, infraestrutura logística já existentes, rede de apoio à pesquisa, desenvolvimento, estrutura de desenvolvimento comercial, revendas de equipamentos e máquinas que facilitariam o incremento da produtividade nas regiões.
“O Brasil de hoje produz grãos e fibras, em cerca de 50 milhões de hectares e faz uma segunda safra no mesmo hectare, no mesmo ano, em uma área aproximada de 27 milhões de hectares”, calcula. “Temos a oportunidade de dobrar tudo o que fizemos, coibindo o desmatamento, porque já está provado não ser necessária a intensificação da produção brasileira sobre a floresta, já que existem muitas áreas antropizadas que podem ser convertidas em agricultáveis”, completa.
Para superar o desafio de impulsionar ainda mais o desenvolvimento agropecuário e a pesquisa, Fávaro destacou a necessidade de investimento, recursos com prazo de carência, viabilidade temporal e juros compatíveis para incentivar os produtores. “Já temos terras propícias, gente vocacionada, conhecimento técnico, agronômico, pesquisa e rede comercial instalada”, argumentou. “Precisamos de parceiros e entendemos que a Jica pode ser um deles, em especial na área de alta tecnologia já disponível no Japão”.
Referindo-se ao futuro, o ministro da Agricultura chamou a atenção para a nova diretoria da Embrapa e o grupo de especialistas que estão pensando no futuro da Empresa para os próximos 50 anos. “A Jica está convidada a participar desses estudos com foco na maior empresa pública de pesquisa tropical e no incremento da produção de alimentos, a partir dos recursos da ciência”. Fávaro pediu ainda a colaboração do presidente da Jica e do embaixador do Japão na organização da missão governamental e empresarial brasileira ao país, até o início de agosto, quando serão apresentadas oportunidades bilaterais para o fortalecimento de relações comerciais e entre os governos.