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As stablecoins se tornaram, em pouco tempo, um segmento importante e relevante para o mercado de criptomoedas. Inicialmente desenvolvidas para facilitar conversões entre moedas digitais e fiduciárias, elas têm sido usadas cada vez mais com outra função: proteção de patrimônio. Em especial na América do Sul, esses ativos passaram a servir como forma de se proteger contra a inflação.
Atualmente, as stablecoins correspondem por quase todo o volume movimentado de criptomoedas no Brasil. Esses ativos têm chamado a atenção de grandes empresas e ganhado cada vez mais espaço no mercado como ativos de proteção de patrimônio e forma mais barata de investir no dólar. Também no Brasil, o banco BTG Pactual se tornou o primeiro do mundo a lançar uma stablecoin pareada ao dólar, o BTG Dol.
Para especialistas, esse tipo de criptomoeda possui algumas vantagens que a tornam uma boa opção de proteção de patrimônio, e no momento uma alternativa melhor até que ativos do mundo cripto, como o bitcoin. Ao mesmo tempo, é preciso ter alguns cuidados antes de escolher adquirir esses ativos.
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Stablecoins contra inflação
As stablecoins são criptomoedas pareadas a outro ativo, com o dólar sendo a escolha mais comum. Isso significa, na prática, que 1 unidade da stablecoin equivale a US$ 1. Elas também podem ser criadas pareadas com outras moedas, como o real ou o euro, e também outros ativos, incluindo commodities como o ouro.
Inicialmente, esses ativos serviam como uma forma de sair do mercado cripto sem, necessariamente, transformar as criptomoedas em moeda fiduciária. Isso permite manter uma posição no mercado cripto e, ao mesmo tempo, ter mais “segurança, com exposição a um mercado menos volátil [das moedas fiduciárias]”, explica Denise Cinelli, country manager do Crypto Market.
Porém, conforme os criptoativos se expandiram e atingiram novas regiões e públicos, as stablecoins ganharam outra utilidade: proteção contra inflação. Para Cinelli, isso ocorreu por com conjunto de fatores, com destaque para o “medo que a população está tendo, a desconfiança, de não se sentir mais protegido pelo governo. Antigamente havia uma confiança no dinheiro no banco, que nada aconteceria, mas isso tem se perdido. As stablecoins são opções descentralizadas, o que atrai as pessoas”. Além disso, há o baixo custo e simplicidade de aquisição e custódia.
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Estefano Debernardi, gerente de Desenvolvimento para a América Latina da CoinsPaid, pontua que “as stablecoins geralmente apresentam menos desvalorização em comparação com outros tipos de ativos durante períodos inflacionários. Seu design para ser atrelado a um ativo de reserva, como uma moeda fiduciária ou uma commodity, proporciona estabilidade inerente. Essa característica torna as stablecoins uma opção atraente para indivíduos e empresas que buscam mitigar os efeitos da inflação e preservar o valor”.
Com isso, as stablecoins, em especial as pareadas ao dólar – muitas vezes uma moeda mais valorizada que a do país de origem dos investidores -, ganharam mais espaço como reserva de valor. Essa função, inicialmente, era esperada do bitcoin, muitas vezes chamado de “ouro digital”, mas Cinelli comenta que “hoje, a volatilidade do mercado faz com que as pessoas olhem o bitcoin mais como investimento do que refúgio”.
No longo prazo, porém, a executivo vê características da criptomoeda, como a escassez, que indicam sua capacidade de se tornar um “fundo de reserva fenomenal”. Debernardi avalia que “o bitcoin nasceu da turbulência financeira e ao longo dos anos foi se inclinando para uma reserva de valor”, uma tendência que pode ganhar mais força no futuro.
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Adoção na América do Sul
A América do Sul se tornou um dos maiores ambientes para uso de stablecoins como reserva de valor. Um levantamento da Chainalysis mostra que essa classe de criptoativos é a mais usada por investidores em países conhecidos pelos altos níveis de inflação, como a Argentina e a Venezuela.
Para Cinelli, esse fenômeno “não foi surpreendente, principalmente pelas condições da economia, e acho que isso vai acontecer cada vez mais”. Ela avalia que a adesão na Argentina ocorreu porque as stablecoins se tornaram “uma maneira que eles encontraram de proteger capital, fugir da inflação. A desvalorização cambial ocorre muito rapidamente, há uma limitação do governo de transações em dólar, então conforme o governo restringe, fica comprovada que as criptos são o caminho e refúgio para proteção e fazer movimentações entre divisas”.
Já Debernardi destaca o “aumento significativo no fluxo de compras e transações envolvendo stablecoins, principalmente entre nossos clientes mais novos, integrados em 2022. O Tether (USDT) surgiu como a stablecoin preferida para depósitos e saques, indicando a crescente demanda por moedas digitais estáveis durante tempos econômicos incertos. Essa tendência ressalta o reconhecimento das stablecoins como um meio confiável de realizar transações e preservar o valor”.