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O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento EconĆ“mico e Social (BNDES), AloĆzio Mercadante, defendeu, nesta segunda-feira (5), a retomada da industrialização no Brasil com bem-estar social, para que o paĆs consiga alcanƧar a meta do desenvolvimento ecológico sustentĆ”vel. Mercadante participou do seminĆ”rio Financiamento para o Grande Impulso para a Sustentabilidade. Na ocasiĆ£o, a ComissĆ£o EconĆ“mica para a AmĆ©rica Latina e o Caribe (Cepal) lanƧou o estudo Financiando o Big Push: Caminhos para Destravar a Transição Social e Ecológica no Brasil.
De acordo com Mercadante, o Brasil teve, na dĆ©cada de 1980, uma indĆŗstria mais forte que a da China e a da Coreia. āPerdemos um tempo históricoā. Para ele, isso se deve Ć falta de perspectiva da elite dirigente e de setores empresariais que perderam a noção de projeto nacional de desenvolvimento ā projetos estruturantes, transformadores, portadores de futuro, de uma relação estĆ”vel de mercado e de bem-estar social.
āPrecisamos de uma neoindustrialização, que seja transformadora, que seja digital, sustentĆ”vel, que impulsione a descarbonização da economia e crie uma nova perspectiva históricaā, afirmou. Segundo Mercadante, o mesmo desafio se impƵe Ć agricultura nacional, no sentido da descarbonização. āUma agricultura que preserve recursos naturais estratĆ©gicos, que dĆŖ ao Brasil uma gigantesca competitividade nesse setorā. Ele acrescentou que o BNDES precisa tambĆ©m olhar o setor de serviƧos, o que mais gera empregos no paĆs atualmente.
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Sobre as mudanƧas climĆ”ticas, Mercadante disse que, se o sistema financeiro nĆ£o mudar, o planeta nĆ£o tem chance de reverter o quadro atual, que Ć© ādevastadorā. E Ć© preciso haver mudanƧa de atitude e nova polĆtica de financiamento, defendeu.
De acordo com Mercadante, o estudo lançado na sede do BNDES é uma grande contribuição para destravar a transição social e ecológica no Brasil. Ele garantiu que o BNDES voltarÔ a ser o banco da reindustrialização do Brasil, da infraestrutura, da indústria, da agricultura descarbonizantes e do setor de serviços, em parceria com organismos internacionais.
AƧƵes
Em participação por vĆdeo no seminĆ”rio, o secretĆ”rio de PolĆtica EconĆ“mica do MinistĆ©rio da Fazenda, Guilherme Mello, destacou que a transformação ecológica estĆ” na pauta da pasta. Ele informou que foi criada uma subsecretaria para discussĆ£o do desenvolvimento sustentĆ”vel, liderada pela professora Cristina Reis. AlĆ©m disso, as equipes da Secretaria de PolĆtica EconĆ“mica e do ministro Fernando Haddad trabalham com outros órgĆ£os a construção de instrumentos de financiamento e de uma moldura para discutir um plano ambicioso de transformação ecológica para o Brasil.
āĆ uma mudanƧa de posturaā, disse Mello, ao lembrar que, hĆ” alguns anos, o Brasil foi protagonista na questĆ£o do combate ao desmatamento, da descarbonização e da proteção dos seus biomas, em particular, da AmazĆ“nia.
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Ele ressaltou, contudo, que, no Ćŗltimo governo, a lideranƧa brasileira na questĆ£o ambiental, āfoi sendo desgastada por uma sĆ©rie de medidas e uma visĆ£o do tema da sustentabilidade como um obstĆ”culo ao desenvolvimentoā. Agora, o tema da transformação ecológica estĆ” sendo visto como grande oportunidade de desenvolvimento, inovação e reconstrução da base produtiva nacional. āIsso Ć© diferente de olhar a questĆ£o ambiental como um custo a ser pago e sim como āuma grande oportunidadeā.
Guilherme Mello informou que o plano de transformação ecológica que estĆ” sendo delineado terĆ” seis grandes eixos: finanƧas sustentĆ”veis; adensamento tecnológico; bioeconomia; transição energĆ©tica; economia circular e nova infraestrutura. Os seis eixos, articulados, compƵem a base do que estĆ” sendo chamado de plano de transformação ecológica. āTodos dialogam entre si.ā
De acordo com o secretĆ”rio, o volume de recursos necessĆ”rios para o Brasil promover a transformação ecológica no prazo correto, que Ć© imposto pelas mudanƧas climĆ”ticas, Ć© muito e significativo, e o orƧamento pĆŗblico sozinho nĆ£o daria conta. āEle precisa ter capacidade de atração de investimentos externos, busca de financiamento em instituiƧƵes multilaterais, financiamento privado e tambĆ©m do sistema de bancos, cooperativas e instituiƧƵes de desenvolvimento, que tĆŖm capacidade de alavancar crĆ©dito e financiar investimentos de maneira bastante robusta.ā
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TĆtulos sustentĆ”veis
Alguns temas contribuirĆ£o para a construção do plano de transformação ecológica. O primeiro Ć© o Brasil promover sua primeira emissĆ£o de tĆtulos pĆŗblicos sustentĆ”veis, que dialoguem com a sustentabilidade social e ambiental, no Ć¢mbito internacional. Após muitos anos fora do mercado de emissĆ£o de tĆtulos, o Brasil voltou a fazer uma emissĆ£o no primeiro semestre, o que ajuda no sistema de curva de precificação desses tĆtulos.
O Tesouro estĆ” trabalhando para emissĆ£o de tĆtulos sustentĆ”veis no segundo semestre. VĆ”rios paĆses parceiros do Brasil na AmĆ©rica do Sul jĆ” tĆŖm expertise na emissĆ£o de tĆtulos sustentĆ”veis que ajudam a atrair capitais e financiar investimentos na transformação ecológica. O maior exemplo Ć© o Chile, disse o secretĆ”rio. āE o Brasil, certamente, tem enorme potencial para captar e atrair investidores para a agenda ambiental que estamos construindo. E a emissĆ£o de tĆtulos Ć© uma forma de se fazer isso.ā
Outro tema que deve aparecer nos debates nos próximos meses Ć© o da regulamentação do mercado de crĆ©ditos de carbono, que Ć© fundamental, segundo Guilherme Mello. EstĆ” sendo construĆda uma proposta robusta para que tal mercado seja constituĆdo no Brasil e possa, futuramente, ganhar dimensĆ£o internacional, levando o paĆs a se tornar credor na transformação ecológica, na medida em que reduzir o desmatamento e preservar seus biomas. O secretĆ”rio destacou tambĆ©m que Ć© preciso ter certeza de que os recursos dos investidores estĆ£o sendo destinados para aƧƵes sustentĆ”veis e de que nĆ£o vai haver desvio de finalidade nos recursos investidos no Brasil para a transformação ecológica.
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Outra discussĆ£o importante Ć© sobre o carĆ”ter sustentĆ”vel do programa de investimentos que serĆ” anunciado pelo presidente da RepĆŗblica nos próximos meses. Segundo Mello, no passado, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foi importante para fortalecer a infraestrutura do paĆs, mas o que se quer hoje Ć© que os investimentos, tanto os sociais quanto os de infraestrutura, alĆ©m do conjunto de polĆticas pĆŗblicas, tenham claro o critĆ©rio de sustentabilidade.
No Ć¢mbito das polĆticas sociais, o secretĆ”rio destacou que nĆ£o hĆ” possibilidade de preservar biomas, construir novas estruturas produtivas sem pensar na capacidade de geração de emprego e renda das atividades sustentĆ”veis. De acordo com Mello, Ć© a combinação de atividades ambientalmente sustentĆ”veis e socialmente inclusivas que vai permitir tanto o combate ao desmatamento, āque Ć© a principal fonte de emissĆ£o no Brasilā, quanto a construção de uma estrutura produtiva verde, que dialogue com novas tecnologias, com a neoindustrialização, com a transição energĆ©tica, novas fontes de energia e de combustĆveis, que vĆ£o ter como base a bioeconomia, a inclusĆ£o social e produtiva.
Guilherme Mello abordou ainda o tema da sustentabilidade sob o ponto de vista das polĆticas sociais. E garantiu que nĆ£o hĆ” como preservar os biomas sem pensar tambĆ©m na capacidade de geração de renda e de emprego.