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Uma das mais ricas cidades do agronegĂ³cio no paĂs, Rio Verde (GO) estava muito longe de ostentar esse tĂtulo no final dos anos 1970. EntĂ£o um municĂpio com menos de 75 mil habitantes, nĂ£o conseguia agregar valor com o agronegĂ³cio, que nem tinha esse nome, sĂ³ era praticado em terras boas e, em muitos casos, consistia apenas numa atividade de subsistĂªncia.
AtĂ© que 50 produtores rurais se juntaram e criaram uma cooperativa, de onde surgiu no inĂcio dos anos 80 uma pioneira indĂºstria de Ă³leo de soja, que ajudou a acelerar a riqueza nĂ£o sĂ³ de uma cidade, mas de municĂpios do sudoeste goiano.
A Comigo (Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano), dos 50 pioneiros, hoje tem 11 mil cooperados, 3.500 funcionĂ¡rios, unidades em 17 cidades e faturou, em 2022, R$ 15,6 bilhões, numa cidade que jĂ¡ tem 225.696 habitantes. Do total de cooperados, 70% sĂ£o pequenos, com Ă¡reas que nĂ£o chegam a cinco alqueires (34 campos de futebol).
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Desde entĂ£o, produtores rurais passaram de uma colheita que mal chegava a 30 sacas (60 kg cada) por hectare na Ă©poca para as atuais 80.
Tendo Rio Verde como epicentro, a regiĂ£o cresce tanto que bancos estĂ£o abrindo agĂªncias, prefeituras veem o caixa engordar e nem mesmo a chegada da ferrovia Norte-Sul foi suficiente para escoar toda a produĂ§Ă£o de farelo em maio, conforme a cooperativa.
O Santander, por exemplo, abriu dez agĂªncias no estado em 2022 e mapeou outras 15 cidades com potencial, numa estratĂ©gia de ampliar o total de assessores para atender clientes com mais de R$ 300 mil investidos.
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“Fizemos a proposta de montar uma indĂºstria de Ă³leo de soja em 1980, alguns acharam inviĂ¡vel, mas os estudos mostraram que seria possĂvel. A maior indĂºstria Ă Ă©poca poderia receber 600 toneladas por dia, e montamos uma desse tamanho”, disse Antonio Chavaglia, presidente da Comigo e produtor rural na regiĂ£o.
Para isso, a cooperativa buscou crĂ©dito no extinto BNCC (Banco Nacional de CrĂ©dito Cooperativo) e iniciou as operações em 1981. Do arroz e milho cultivados na regiĂ£o, alĂ©m da criaĂ§Ă£o de gado, rapidamente a soja se espalhou, graças tambĂ©m a pessoas que chegaram do Sul, de Minas Gerais e de SĂ£o Paulo com mochila nas costas e um trator velho, como relataram Ă Folha antigos moradores.
“Realmente nĂ£o havia soja naquela Ă©poca. No primeiro ano, [a indĂºstria] esmagou soja sĂ³ por trĂªs meses. No segundo, nove meses e, no outro ano, jĂ¡ sobrou soja. Isso deu um impulso na regiĂ£o do cerrado em GoiĂ¡s, foi o grande pulo do gato”, disse.
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NĂ£o foi sĂ³ Rio Verde a beneficiada pelo boom. Entre as cem cidades mais ricas do agronegĂ³cio no paĂs, dez sĂ£o goianas. AlĂ©m de Rio Verde, figuram outras do sudoeste de GoiĂ¡s, como JataĂ, ChapadĂ£o do CĂ©u, Mineiros e Montividiu, mas tambĂ©m localidades como Santa Helena de GoiĂ¡s se beneficiam com armazĂ©ns e estrutura logĂstica para o agro. Da indĂºstria de Ă³leo pioneira, hoje elas jĂ¡ ultrapassam uma dezena.
As exportações de Rio Verde passaram de US$ 1,8 bilhĂ£o, em 2021, para US$ 4,5 bilhões no ano passado, ou um terço dos embarques de GoiĂ¡s.
O Orçamento da prefeitura, que em 2017 foi de R$ 700 milhões (R$ 953,9 milhões, atualizado pela inflaĂ§Ă£o), foi projetado para R$ 1,5 bilhĂ£o neste ano, mas deve fechar em R$ 1,7 bilhĂ£o e, nos Ăºltimos trĂªs anos, foram gerados cerca de 10 mil empregos formais, sobretudo graças Ă s obras ligadas Ă ferrovia Norte-Sul, concluĂdas em 2023.
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“Os nĂºmeros sĂ£o bem robustos, mostram a presença do agro e da logĂstica na economia local”, disse o prefeito de Rio Verde, Paulo do Vale (UniĂ£o Brasil).
Outdoors espalhados na cidade informam que a prefeitura estĂ¡ construindo com recursos prĂ³prios uma nova sede para a administraĂ§Ă£o que vai gerar mais de R$ 600 mil mensais de economia.
NOVO CICLO
A ferrovia darĂ¡ condições de a regiĂ£o e o estado serem competitivos nĂ£o sĂ³ no que produzem, mas tambĂ©m no que consomem, segundo o governador Ronaldo Caiado (UniĂ£o Brasil) disse em evento apĂ³s a conclusĂ£o das obras da Norte-Sul.
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“Rio Verde jĂ¡ hoje nĂ£o sabe mais como segurar o crescimento que tem. Isso tudo vai ser no estado. Vai transformar GoiĂ¡s num centro de encontro das duas maiores ferrovias do paĂs.”
O PIB (Produto Interno Bruto) de GoiĂ¡s cresceu 188% entre 1986 e 2023, de acordo com cĂ¡lculos da MB Associados, acima dos 108,7% de crescimento da mĂ©dia brasileira.
Presidente da operadora logĂstica Rumo, JoĂ£o Alberto Abreu projeta a ampliaĂ§Ă£o dos negĂ³cios nos prĂ³ximos anos, nĂ£o concentrados somente em grĂ£os, mas em outras cadeias da economia, como os combustĂveis.
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“O potencial na regiĂ£o existe. GoiĂ¡s e Tocantins tambĂ©m, onde estamos conectados agora, tĂªm uma previsĂ£o de crescimento muito relevante atĂ© 2030 do ponto de vista do agronegĂ³cio em todas as Ă¡reas que o agronegĂ³cio atinge. EntĂ£o os investimentos com certeza vĂ£o continuar acontecendo”, disse.
A Norte-Sul Ă© o mais emblemĂ¡tico projeto ferroviĂ¡rio do paĂs nas Ăºltimas dĂ©cadas e, agora concluĂdo, colocou em funcionamento uma rota operada pela Rumo de 1.537 quilĂ´metros de trilhos entre Estrela D’Oeste (SP) e Porto Nacional (TO), que passa por quatro das cinco regiões do paĂs.
Um outro trecho, entre Porto Nacional e AçailĂ¢ndia (MA), Ă© administrado pela VLI, e, de AçailĂ¢ndia ao porto de Itaqui, pela Vale, por meio da Estrada de Ferro CarajĂ¡s. Com o trecho sob gestĂ£o da VLI, a Norte-Sul tem, ao todo, 2.257 quilĂ´metros de extensĂ£o.
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Para o novo ciclo, porĂ©m, Ă© preciso contar tambĂ©m com o modal rodoviĂ¡rio e superar gargalos, como as mĂ¡s condições da BR-452, que liga a regiĂ£o a Itumbiara num percurso de quase 200 quilĂ´metros marcado por pista simples e por pontos em que os caminhões preferem utilizar o acostamento a trafegar pela via esburacada.
“AtĂ© Rio Verde, Ă© uma rodovia duplicada, Ă³tima, mas depois [sentido Itumbiara] Ă© sĂ³ sofrimento”, disse o motorista Claudionor Reis, de JataĂ, que trafega semanalmente pela rodovia.
Discussões sobre a duplicaĂ§Ă£o da rodovia se acentuaram nos Ăºltimos anos. No mĂªs passado, por exemplo, foi tema de uma reuniĂ£o no MinistĂ©rio dos Transportes. Melhorar a logĂstica Ă© a expectativa de Chavaglia para manter o ritmo de desenvolvimento dos municĂpios da regiĂ£o.
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“[Nos anos 80] Rio Verde quase nĂ£o tinha asfalto, era um poeirĂ£o danado. Começou a evoluir, atrair prestadores de serviço e cresceu […] Hoje temos ferrovia, que leva 55 mil toneladas de farelo da Comigo. Mas mesmo a ferrovia nĂ£o atendeu nossa demanda em maio. Tivemos de levar 11 mil toneladas para ParanaguĂ¡ [por rodovia]. Agora parece ter sinalizaĂ§Ă£o de alguma melhoria.”