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A perda de força da inflação nos últimos três meses passou a atuar como aliada do governo na pressão pela redução dos juros básicos. Os analistas do mercado financeiro, no entanto, são relutantes e mantêm a aposta de que o primeiro corte da taxa Selic deve ocorrer apenas em setembro.
A trajetória de queda dos juros básicos no segundo semestre é vista como unanimidade. Restam somente as dúvidas sobre o início e a magnitude dos cortes. Atualmente, a taxa Selic encontra-se em 13,75% ao ano, o maior patamar dos últimos seis anos, desde agosto do ano passado.
As estimativas mais recentes dos economistas consultados semanalmente pelo BC (Banco Central) mostram que a Selic encerrará 2023 em 12,5% ao ano, com três quedas de 0,5 ponto percentual previstas para as reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária) de setembro, novembro e dezembro.
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Na última segunda-feira (12), a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, destacou que o governo tem feito seu papel para reduzir os juros. Segundo ela, já existem condições para um corte da taxa básica no encontro marcado para o mês de agosto.
“Estamos dando todos os elementos e condições para que o BC e o Copom possam começar a olhar com carinho, mostrar uma tendência de queda dos juros já a partir de agora, prevendo uma queda de juros em agosto”, disse Tebet após reunião do Conselhão.
A avaliação da ministra leva em conta o recente arrefecimento da inflação, que subiu em ritmo menor nos últimos três meses, e o avanço no Congresso Nacional da tramitação das novas regras fiscais apresentadas pelo governo.
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O diretor de tesouraria do Braza Bank, Bruno Perottoni, afirma que o mercado já considera uma boa possibilidade de ocorrer um corte de 0,25 percentual dos juros em agosto. “Redução de juros já não é uma questão de se, mas de quando apenas”, diz.
“Acho um pouco precipitado falarmos com tanta convicção de cortes aqui com um mundo com a tendência de aumentar os juros para combater a inflação. Nesse ponto, vejo um Copom mais conservador do que as expectativas do mercado”, avalia Perottoni.
O movimento especulativo de antecipação do corte dos juros também é partilhado por Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed. Segundo ele, a pressão do governo e do setor produtivo não tem potencial para alterar as decisões da autoridade monetária.
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“Eu não acho que qualquer declaração da Tebet ou de qualquer outro membro do governo cause interferência na curva de juros. Muito mais forte do que isso é a posição do Roberto Campos Neto e dos diretores [do BC]”, avalia, ao ver que a antecipação teve origem há vários dias.
Irredutível até então mesmo diante da pressão, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, destaca que a curva futura de juros tem apontado para taxas menores. Na fala dirigida a empresários, ele afirma que o movimento abre espaço para corte da taxa Selic à frente, sem especificar quando.
“A curva de juros futuros tem tido queda relevante. Isso significa que o mercado está dando credibilidade ao que está sendo feito, o que abre espaço para atuação de política monetária à frente”, afirmou Campos Neto na última segunda-feira. Para ele, no entanto, o BC deve atuar com “parcimônia”, sem reduzir as taxas de forma artificial.
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Atenção à ata
Com as recentes sinalizações, todos os olhos ficam voltados para o comunicado e a ata da próxima reunião do Copom, a ser realizada na semana que vem. É nos documentos que Tebet diz esperar uma sinalização contundente do Banco Central sobre o futuro dos juros.
No último encontro, a ata do Copom afirmou que o atual cenário econômico requer “paciência e serenidade” até o início da trajetória de cortes da taxa Selic. Ainda assim, o Copom ressalta que, em “um cenário menos provável”, poderá elevar novamente os juros “caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”.
Para Perottoni, do Braza Bank, a sinalização de corte dos juros já deve ser bem evidenciada na ata divulgada no dia 27 de junho. “Particularmente, vejo algumas falas bem conservadoras, mas o comunicado e a ata da próxima reunião serão fundamentais para entender o tom que [o BC e o Copom] assumirão”, observa ele.
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De acordo com Ricardo Jorge, os recentes dados positivos da economia só serão significativos para o corte dos juros após representados nos posicionamentos do Copom. “Todo esse quebra-cabeça de informações colabora para o Banco Central sinalizar algo, mas só vamos descobrir quando o documento oficial for divulgado, e as preocupações ainda vigentes, reveladas”, analisa.
Os temores levam em conta que a taxa Selic é a principal ferramenta de política monetária para determinar o avanço dos preços em uma economia. Isso acontece porque os juros mais altos encarecem o crédito, reduzem a disposição para consumir e estimulam novas opções de investimento pelas famílias.
A possibilidade de aceleração da inflação acumulada em 12 meses ao longo do segundo semestre aumenta a incerteza em torno do BC. O período marca a comparação com os três meses de deflação ocasionados pelo corte de impostos para reduzir o preço dos combustíveis e da energia elétrica.