O IBGE divulga nesta terça-feira (11) a inflação medida pelo IPCA de junho com um expectativa de analistas para uma deflação na comparação com maio. Excetuando o período do 3° trimestre do ano passado, quando o índice cheio ficou artificialmente negativo por conta de reduções de impostos, o indicador mensal não aparece no campo negativo desde maio de 2020.
Mas tanto queda esperada para junho como as possíveis altas nos meses à frente devem ter pouca relevância na definição da política monetária. O que vai contar mesmo para o Banco Central é o comportamento dos núcleos da inflação e das variações de preços dos serviços, dizem os economistas.
Andrea Damico, sócia e economista-chefe da Armor Capital, adverte que há muitos elementos de volatilidade na inflação de curto prazo, com reonerações de impostos, queda de preços de combustíveis, desconto na energia elétrica vinda de Itaipu e pelo programa de incentivo do governo às compras de automóveis.
Tudo isso somado ao contínuo processo de desinflação dos últimos meses deve levar o IPCA para uma variação negativa em junho, com algum impacto em julho, mas Andrea prevê que agosto já deve apresentar um comportamento de alta.
Porém, ela considera que essas variações de curto prazo são irrelevantes para a condução da política monetária pelo BC. “O que importa para a política monetária é a inflação subjacente, ainda mais que a corrente vai ter todas essas volatilidades anormais, essas altas e baixas atípicas”, comenta.
Por conta disso, a economista da Armor vê como mais importante acompanhar na divulgação do indicador os comportamentos dos preços dos bens industriais e a parte de serviços do índice. “Temos uma visão construtiva para ambos, para bens industriais por conta das deflações dos IGPs, e na parte de serviços pelo mais lento o processo de desinflação. Vemos uma continuidade da desinflação de núcleos, principalmente olhando para a média” afirma
A Armor acredita que a dinâmica atual da inflação vai permitir ao BC iniciar o processo de queda de juros já em agosto, possivelmente acelerando o passo na sequência. “Nosso IPCA para o ao é 4,80%, mas a visão é que pode ser menos. Nosso viés é para uma inflação ainda menor”, afirma.
Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital, também acredita que as próximas divulgações do IPCA não devem trazer impactos na avaliação de política monetária, da mesma maneira como isso não ocorreu durante a deflação de julho, agosto e setembro do ano passado. “A gente sabia que era um movimento artificial, efeito da redução de impostos em produtos que são relevantes na cesta. E que seria temporária, em grande parte.”
Ele destaca que o “descontão” do ano passado aconteceu num momento em que todos os outros itens de inflação ainda se mostravam numa alta resistente. Na época, o panorama da política monetária de aperto, porque era necessário que controlar os efeitos secundários das variações de preços, lembra Tatiana.
“Hoje, o panorama é diferente. Quando olhamos a abertura da inflação, tem uma queda. Tem desaceleração da inflação de serviços, queda da inflação de alimentos e de bens industriais, que tem como pano de fundo uma desaceleração grande na parte do atacado. O ambiente hoje tem os ingredientes para num debate de flexibilização, que não tinha no 3° trimestre do ano passado, a despeito da redução de impostos ter jogado a inflação cheia para baixo”, comenta.
A economista da Galapagos reconhece que que a inflação em 12 meses vai aumentar entre julho e setembro porque a deflação no 3º tri de 2022 foi muito forte. No ano passado, o IPCA de julho foi de -0,68%, o de agosto ficou em -0,36% e o de setembro chegou a -0,29%. Numa conta arredondada, o trimestre acumulou uma deflação 1,4%. Para este ano, os cálculos são que a inflação no período fique entre 0,7% e 0,8%.
Com isso, na comparação de 12 meses, o IPCA de junho deve recuar de 3,9% em maio para um patamar abaixo de 3,5% em junho (a mediana de projeções está em 3,2%) e deve voltar a subir nos meses seguintes, conforme estimativas da economista.
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Mas isso não deve causar sobressaltos ao BC. “Não vai ser essa aceleração em 12 meses que vai mudar a avaliação. O BC está olhando a abertura da inflação, o movimento secundário dos preços. A inflação vai atingir o menor patamar em junho e, a partir de julho, volta a subir. Salvo um choque muito sério, está tudo precificado, tudo dentro das projeções”, avalia a economista da Galapagos.
Mudança no cenário macro
Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, projeta uma deflação de 0,02% em junho para o IPCA, mas ele também vê um movimento diferente que quando o indicado ficou negativo no ano passado, motivado por uma mudança tributária.
“Nesse momento, é uma mudança de cenário macroeconômico, tanto internacional como doméstico. O cenário mudou em termos de definição política monetária no Brasil, já se prevê uma queda de juros a partir de agosto. Também tem um pouco mais de clareza nos Estados Unidos, ainda que a última Ata do Fomc tenha deixado o mercado um pouco preocupado. Essa clareza tem feito a taxa de câmbio aqui se valorizar”, comenta.
Agostini também cita que a preocupação sobre uma atividade econômica no mundo mais moderada tem derrubado os preços das commodities, gerando nos últimos meses a uma queda nos índices do atacado que compõem os índices gerais de preços (IGP-M, IGP-10 e IGP-DI).
Devem contribuir ainda para a deflação do IPCA a queda recorrente de preços de combustíveis e o otimismo com a aprovação na Câmara da proposta de reforma tributária. “Todo esse contexto vai alimentando uma inflação menor, inclusive com possibilidade de cumprimento da meta em 2023, mesmo que no teto. Há 20 dias atrás, isso era praticamente impensável”, afirma Agostini.
Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, por sua vez, lembra que, sazonalmente, a inflação desacelera no meio do ano, mas que em 2023 houve uma queda além do esperado por conta da redução mais acentuada dos preços dos alimentos e da gasolina, consequência da queda das cotações das commodities no mercado internacional.
“Além disso, a inflação de bens também desacelerou, seguindo a queda de custos de produção como pode ser observado no IGP negativo, que acumula -7% até junho em 12 meses. Essa desaceleração da inflação maior que o esperado tem impacto na expectativa para o ano. Em, nossa última revisão, reduzimos a projeção de IPCA de 5,0% para 4,7% para 2023”, comenta.
Luis Menon, economista da Garde Asset Management, tem uma inflação projetada para junho de -0,08%. “Um dos destaques é a parte de alimentação no domicílio, que deve desacelerar de 0% para -0,77% no mês. Outro grupo importante que também apresenta deflação projetada é o de transportes, sendo esperado um impacto significativo do programa do governo para compra de carros populares, com uma redução de 4% nos preços dos carros novos, além de uma deflação na gasolina de -1,40%, decorrente do corte de preços pela Petrobras”, prevê.
No entanto, em serviços, espera-se uma aceleração em relação ao mês de maio, passando de -0,06% para 0,54%. Grande parte desse movimento pode ser explicado pelo aumento nas passagens aéreas, que, devido a um fator sazonal, devem passar de -17,7% para +10,7%.
“Em termos qualitativos, espera-se uma leitura benigna da inflação, com a desaceleração dos núcleos e certa estabilidade nos serviços subjacentes. No acumulado de 12 meses, junho deve representar o ponto mais baixo, com uma inflação de 3,15% e desaceleração em todas as categorias (serviços, bens, alimentos e administrados)”, afirma Menon.
Ele diz também esperar uma aceleração da inflação para os próximos meses, em grande parte devido ao efeito da deflação ocorrida em 2022 pelos cortes de impostos sobre gasolina, energia e comunicação antes das eleições.
“No entanto, mesmo com essa aceleração do acumulado dos 12 meses, acredita-se que a qualidade da inflação deva continuar melhorando. Especificamente para julho, existe um risco de mais um mês de deflação devido a um desconto na conta de luz proveniente de um crédito de Itaipu, mas espera-se que o efeito seja revertido no mês seguinte”, destaca.
Para o Bradesco, o IPCA em 12 meses deve ficar abaixo do centro da meta de 3,25% em junho, com a trajetória a partir de julho devendo voltar a ser ascendente. “Mas a continuidade da deflação no atacado e a melhora da dinâmica das expectativas de inflação devem abrir caminho para o início do ciclo de cortes da Selic já em agosto”, comenta o banco em nota.