Após alcançar o nível mais alto desde novembro passado no pré-feriado, a bolsa deu sequência ao rali nesta sexta-feira (9) e renovou a máxima do ano. Em dia de agenda esvaziada, prevaleceram especulações sobre queda de juros no Brasil e na China. Na maior economia do mundo, ganham força as apostas de uma pausa no ciclo de aumento das taxas americanas.
- O Ibovespa, principal índice da bolsa, fechou em alta de 1,33%, aos 117.019 pontos. Na semana, ganhos foram de 3,96%, mesmo com um dia a menos de negociação. No mês até aqui, valoriza expressivos 8,02%. No ano, sobe 6,64%.
Juros elevados no mundo são postos à prova
Lá fora, a China registrou deflação pelo oitavo mês seguido em maio, com o índice de preços ao produtor (PPI) caindo para 4,6%, o recuo mais forte desde junho de 2016, em meio aos sinais de que o enfraquecimento da demanda tem pesado sobre a recuperação econômica. Não à toa, a redução da taxa de empréstimo por seis bancos estatais chineses levantou a possibilidade de cortes nos juros pelo banco central do país asiático.
- Preços do minério de ferro reagiram às notícias positivas e subiram 3,4% nesta sexta-feira. Ações da mineradora Vale, com participação de 16% no Ibovespa, chegaram a avançar 1% durante o pregão. No entanto, perderam força nos minutos finais e fecharam em queda de 0,45%. Gerdau subiu 0,44%, enquanto CSN arrancou 0,85%.
- Entre as petroleiras, ações ordinárias (ON, com direito a voto em assembleias) e preferenciais (PN, sem direito a voto) da Petrobras dispararam quase 5%. “Os investidores estão animados para o pagamento de dividendos na próxima semana”, lembra Rodrigo Azevedo, sócio-fundador da GT Capital. Papéis da estatal ficaram à frente da Prio e da 3R, que recuaram 0,89% e 1,84%, respectivamente, embaladas pelo tombo do petróleo no mercado internacional.
Nos Estados Unidos, sinais de desaceleração do mercado de trabalho, após forte aumento no número de norte-americanos que entrou com pedidos de seguro-desemprego, puxaram as bolsas americanas para cima na quinta-feira (8), quando os negócios no Brasil ficaram fechados em razão do feriado de Corpus Christi.
O dado, acompanhado de perto pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) para balizar a trajetória de política monetária do país, alimentou as esperanças de que a autoridade não deve subir os juros na reunião da próxima semana.
Recentemente, ganharam apoio falas de membros do Fed sobre pausar o aumento das taxas de juros americanas e deixá-las estáveis por um tempo para entender os efeitos defasados do aperto monetário e, quem sabe, evitar ou adiar uma recessão na maior economia do mundo.
Se as incertezas sobre os próximos passos do Fed ajudavam, até certo ponto, a sustentar o dólar em patamares elevados, tal cenário caiu por terra após os números de pedidos de seguro-desemprego. Deu espaço, portanto, à valorização mais expressiva do real, em meio a um cenário doméstico mais favorável de crescimento econômico.
- O dólar à vista ciu 0,98%, cotado a R$ 4,87, na mínima do ano. Na semana, recuou 1,56%. No mês até aqui, perde 3,88%. No ano, tombo de 7,61%.
No cenário doméstico, a semana começou com previsões mais otimistas para a economia brasileira. Pela terceira vez seguida, os analistas consultados pelo Banco Central no relatório Focus voltaram a esperar uma inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mais baixa em 2023. Também reduziram as expectativas para 2024, que costuma ser mais acompanhada pelo Banco Central para tomar as decisões de juros.
Diante de dados pujantes sobre a atividade, a expectativa para o crescimento da economia, medido pelo Produto Interno Bruto (PIB), em 2023 aumentou pela quarta semana consecutiva. Não por acaso, depois que o PIB do primeiro trimestre surpreendeu ao alcançar o melhor desempenho desde 2020.
O indicador subiu 1,9% no período, graças ao setor agropecuário, que abriu os três primeiros meses do ano com crescimento de 21,6%, o maior desde 1996. Foi a quinta vez na série histórica que o segmento expandiu na casa dos dois dígitos frente a um trimestre anterior.
Na esteira de mais crescimento e menos inflação, o IPCA de maio desacelerou além do que se esperava. No ano, a alta foi reduzida a 2,95%. Se antes as apostas do mercado eram de cortes nos juros em setembro, especulações sobre uma possível antecipação para agosto foram praticamente consolidadas.
Motivo de sobra para a continuidade do movimento de retirada de prêmios de risco por toda a curva de juros futuros nacional:
- Contratos de curto prazo estão mais ligados às expectativas de investidores para a Selic. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 passou de 13,095% no ajuste anterior para 13,02%;
- Prazos mais longos refletem a visão do mercado sobre a trajetória da dívida pública (risco fiscal) e da inflação à frente. O DI para janeiro de 2027 cedeu de 10,64% para 10,505%.